Tudo pela saúde deles
Os diagnósticos e tratamentos de ponta que salvam vidas
nos hospitais chegam às clínicas veterinárias. Os donos de cães
e gatos desembolsam fortunas para tratar de seus bichos de estimação
Não faz muito tempo, o destino de um cão velho ou doente era a morte rápida. O dono sabia que os recursos veterinários eram escassos e se resignava à ideia de que era melhor sacrificar o animal do que deixá-lo sofrer. Não é mais assim. No ano passado, as famílias brasileiras gastaram 696 milhões de reais com consultas, medicamentos e vacinas para seus animaizinhos. Essa soma é equivalente ao faturamento anual dos maiores hospitais particulares do país. Os cuidados com os bichinhos de estimação chegaram a uma nova e extraordinária fronteira - a dos serviços veterinários de altíssima qualidade. Para o rápido entendimento do que isso significa na prática, recomenda-se pensar na tecnologia de diagnóstico e tratamento oferecida pelos bons hospitais brasileiros. Se o equipamento estiver sendo oferecido aos pacientes humanos, é muitíssimo provável que também esteja disponível para cães e gatos, especialmente nas capitais do Sudeste. Um aparelho de tomografia computadorizada ou de ressonância magnética instalado numa clínica veterinária pode significar a diferença entre a vida e a morte de um bichinho de estimação.
O Brasil abriga o segundo maior contingente de cães e gatos domésticos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A relação estatística entre a população humana e a canina é igualmente grande. Na média, existe um cão e meio para cada lar brasileiro que cria o animal. Já a distribuição regional é desigual. Há mais bichos de estimação no Sul e no Sudeste, onde estão os estados mais ricos, e menos no Nordeste e no Norte, onde ficam os mais pobres. Nas grandes cidades com predomínio da classe média, como Campinas, Curitiba e Porto Alegre, o total de domicílios com algum animalzinho de estimação ultrapassa 50%. Há no Brasil 45.000 pet shops, as lojas que oferecem toda sorte de mimo para os animais, de banho e corte do pelo até brinquedos e roupas. O mercado de serviços e produtos para bichos de estimação é de 9 bilhões de reais por ano, o equivalente ao faturamento do comércio eletrônico no país. Em termos mercadológicos, pode-se dizer que os donos com mais dinheiro estão dispostos a gastá-lo para proporcionar uma vida de cão saudável e confortável.
A cadela Pink, uma pinscher de 9 anos, foi tratada com medicamentos para amenizar a dor causada pelo que os veterinários de Santos, no litoral paulista, acreditavam ser uma hérnia de disco. Como o tratamento não surtia efeito, ela foi levada para São Paulo e submetida a uma tomografia computadorizada. O diagnóstico: um tumor de difícil detecção na segunda vértebra cervical. "Há um ou dois anos, esse diagnóstico nem sequer seria possível", diz o veterinário André Fonseca Romaldini, do Hospital Veterinário Santa Inês, de São Paulo, que realizou o exame de Pink. A história, infelizmente, tem final triste. O diagnóstico chegou tarde demais para salvar a vida da cachorra.
Cães e homens vivem uma longa história de afeição mútua. Estudos genéticos recentes concluíram que a parceria começou 14 000 anos atrás, no Oriente Médio. O antepassado do cão foi um lobo atraído pela facilidade de se alimentar dos restos largados em torno das habitações humanas. O relacionamento, no início, foi utilitário para ambos. O cão guardava a aldeia e ajudava nas caçadas. Em troca, era alimentado e protegido de predadores. No caso dos gatos domésticos, todos eles descendentes da única espécie de felino que se deixou domesticar, a troca incluía controlar os ratos que atacavam os estoques de comida e transmitiam doenças. Não se sabe em que momento começou a despontar o vínculo emocional que nos liga a cães e gatos – mas é razoável supor que foi um caso de amor desde o início. O tipo de cão original, o primeiro a conviver com o homem, não existe mais. Todas as raças atuais (há mais de 500 reconhecidas pelo Kennel Club brasileiro) são o resultado da seleção artificial conduzida pelo homem. O resultado foram animais de todos os tamanhos e temperamentos – e uma enorme quantidade de doenças genéticas e deficiências físicas que tornam nosso melhor amigo um candidato a paciente crônico.
O boxer é um exemplo. Essa raça de cães amáveis com as crianças é particularmente suscetível a males cardíacos. Exames veterinários periódicos são necessários para fazer soar o alarme a tempo. Apolo é um boxer de 7 anos, cuja mãe morreu de arritmia cardíaca em 2008. A dona do cão, a paulistana Valéria Loureiro, o leva periodicamente ao veterinário. Da última vez, Apolo teve seu sistema cardiovascular monitorado durante 24 horas por um aparelho de holter por telemetria. "Em casa, tive de anotar os horários em que ele comia, dormia e brincava, para que o médico pudesse interpretar o exame", diz Valéria. Os resultados não mostraram nenhuma alteração relevante no coração de Apolo. O holter por telemetria começou a ser usado na veterinária apenas no ano passado. Em algumas cidades já existe a UTI móvel veterinária. Dois meses atrás, a curitibana Dione do Rossil Lobo encontrou a cachorrinha Bjori, yorkshire de 8 anos, desmaiada na cama em decorrência de uma picada de abelha. Era tarde da noite e Dione preferiu chamar a ambulância. Menos de dez minutos depois, Bjori já estava dentro da UTI móvel, respirando com a ajuda de tubos de oxigênio. "Tenho certeza de que, se não fosse o atendimento de emergência, teria perdido minha princesinha", diz Dione.